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segunda-feira, 13 de julho de 2009

À Esperança Sem Vestígios


"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior. Sinto na minha pessoa uma força religiosa, uma espécie de oração, uma semelhança de clamor. Mas a reacção contra mim desce-me da inteligência… Vejo-me no quarto andar alto (...), assisto-me com sono; olho, sobre o papel meio escrito, a vida vã sem beleza e o cigarro barato que a expender estendo sobre o mata-borrão velho. Aqui eu, neste quarto andar, a interpelar a vida!, a dizer o que as almas sentem!, a fazer prosa como os génios e os célebres! Aqui, eu, assim!..."



Bernardo Soares, in 'Livro do Desassossego'

3 comentários:

Anônimo disse...

R: Tudo bem... ta desculpado...!Deixa isso pra lá... Só espero que realmente tenha me entendido... entendido o que quero/posso ter com vc (somente amizade)... Prefiro assim!

Ótimo dia e excelente trabalho!

Abraço =)

Wanderley Elian Lima disse...

Apesar de ser um texto pesado é muito belo. Parabéns pela escolha.
Abração

Lídia Borges disse...

Ninguém pode ser sozinho para sempre.
Sempre precisamos de alguém em algum momento da vida.

Um beijo